Deixe-me tirar essa roupa surrada, essa roupa de ser eu, tão gasta e suja pela sujeira dos meus erros, dos meus dias, das minhas vidas. Deixe-me uma vez se quer tomar um banho demorado, me trocar, me arrumar, com calma e sem desesperos montar um novo eu.
Tudo se é um trabalho em ser... pois trabalhar em não ser também, seria quase impossível. Mas o que ser em meio a tantos seres? Dentro de mim vejo mil e um eus perdidos sem saber exatamente o que sou, o que fui e o que terei de ser. A cada dia sinto perder uma parte de mim, como uma flor que murcha e perde suas pétalas, sinto perder minhas pétalas a cada boca, a cada problema, a cada... A cada.
Como saber quais defeitos cortar, quais pensamentos renovar, quais desejos redesejar? Nunca se sabe qual defeito é a base de seu ser, nunca se sabe qual pensamento é você. Afinal, eu sou isso? Eu estou nisso? Como saber aonde devo me mudar se não sei nem onde estou?
Difícil entender o que não se pode ver... mas mais difícil é não ser o que se é. Ser é uma constante de mudanças oriundas de experiências e reflexões. É possível um jovem ser mais sábio que um idoso desde que ele saiba o que ele é e onde esta, sabendo olhar em si todas as respostas por trás de seus medos, erros, defeitos e lembranças.
Como não sou desses que consegue ser o que se deve ser, continuo em minha jornada aos poucos tentando trocar o meu eu sem mudar o que sou, de forma a não me perder do caminho que devo percorrer, mas sem parar no tempo e me tornar um ser que não é nada além de nada. Como disse Clarice alguma vez: “Encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não imaginei: eu existo.”
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